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A oração que guiou minha família pelo deserto

Este artigo foi escrito com base nos relatos de Leandro Torres Valest.

Somos uma família de venezuelanos formada por quatro pessoas: meu pai, minha mãe, minha irmã e eu. Nos mudamos para o Brasil em abril de 2018. 

No começo daquele ano, já estávamos passando por algumas dificuldades na Venezuela. Foi então que surgiu uma grande oportunidade de emprego para o meu pai no Brasil, e decidimos que seria o melhor para todos nós.

Moramos no Brasil até o início de 2023. Já fazia seis anos desde que havíamos deixado nosso país. Em janeiro, com a ajuda de uma tia, meus pais tomaram a decisão de imigrar para o Chile. Um mês depois, em fevereiro, começamos nossa viagem de ônibus.

Em busca do que seria melhor

A viagem ao Chile não foi nada fácil. No caminho, passamos por dois grandes países: Argentina e Bolívia.

Na Argentina, infelizmente, tudo foi em vão. Para entrar no Chile por lá, precisávamos de visto, algo que era exigido especialmente dos venezuelanos. Diante disso, tínhamos duas opções: voltar ao Brasil ou continuar nossa viagem tentando entrar no Chile pela Bolívia, de forma ilegal, com a ajuda de “coyotes”.

Meus pais decidiram continuar. Depois de dois dias viajando pela Argentina, chegamos à Bolívia. Levamos dois ou três dias até alcançar uma cidade próxima à fronteira com o Chile. 

Quando chegamos lá, encontramos os “coyotes”. Eles nos cobraram e explicaram como seria a travessia ilegal. Disseram que levaria duas horas: uma hora caminhando pelo deserto e outra dentro de um caminhão, até onde supostamente carros estariam nos esperando. Nada disso aconteceu.

Lembro que, no dia da travessia, minha mãe, minha irmã e eu saímos para procurar algo para almoçar, enquanto meu pai ficou cuidando das mochilas. Quando voltamos, havia cerca de trinta pessoas reunidas e todas já estavam se preparando para partir. Meu pai acabou ficando sem almoço.

deserto da Bolívia
Registro feito por Leandro em janeiro de 2023 durante a travessia no deserto.

Angustiado por ver minha família naquela situação

Começamos a caminhada pelo deserto da Bolívia às 17h e só paramos às 22h. Foram cinco horas caminhando, com pausas de apenas cinco ou oito minutos de vez em quando. Foi uma das experiências mais frustrantes da minha vida.

Por volta das 18h, meu pai começou a ficar muito cansado e, com certeza, a fome o estava deixando ainda mais fraco. Minha mãe também estava desanimada e angustiada. Minha irmã caçula e eu ainda conseguíamos seguir em frente, mesmo com mochilas de acampamento nas costas e algumas bolsas na frente.

Contudo, às 19h meu pai já não aguentava mais. Estava fraco e desanimado. Minha mãe também não tinha mais forças, minha irmã já estava bem cansada, e eu começava a me sentir exausto. Estávamos ficando para trás, longe do grupo, no meio do deserto.

Lembro que olhei para trás e vi minha mãe tentando apoiar e animar meu pai. Olhei para frente e vi o grupo se afastando, acelerando o passo. Entrei em desespero. Não sabia o que fazer, mas tinha certeza de que não estava sozinho.

Naquele momento, me veio à mente uma escritura que conheço desde pequeno: 1 Néfi 7:17. Nela, Néfi ora ao Senhor pedindo forças para romper as cordas que o prendiam. Lembrei de como ele exerceu fé por meio da oração, pedindo forças para não morrer no deserto. Então, foi exatamente o que fiz. 

Assim, enquanto caminhava, comecei a orar em voz alta, pedindo forças ao Pai Celestial — não só para mim, mas para toda a minha família. Pedi força física e mental para continuar andando, o tempo que fosse necessário, até chegar ao destino que Ele tinha preparado para nós. Eu caminhava e chorava, angustiado por ver minha família naquela situação.

deserto da Bolívia
Registro feito por Leandro em janeiro de 2023 durante a travessia no deserto.

Ele respondeu minha oração

Depois de alguns minutos orando, continuei andando e, de repente, senti que a mochila nas minhas costas estava muito leve. Era como se o peso tivesse desaparecido.

Nunca tinha sentido ela tão leve durante toda a viagem. Corri até meus pais, peguei as mochilas que eles estavam carregando e coloquei comigo. Senti uma força imensa e uma vontade enorme de continuar. Toda a angústia tinha sumido em questão de minutos.

Então, meus pais começaram a caminhar mais leves e rápidos. Eu me sentia super bem. Sabia que o Pai Celestial tinha escutado minha oração. Sabia que não estávamos sozinhos, que Ele não nos havia abandonado num momento tão difícil. Comecei a chorar de felicidade. 

Nunca senti o Espírito tão forte como naquela noite. Carreguei as mochilas pelas próximas três horas. Não deixava de sorrir e olhar para o céu. Era como se alguém estivesse levando tudo por mim.

Me senti ainda melhor quando vi que estávamos nos aproximando do grupo novamente, e quando vi meu pai me olhando com orgulho. O Pai Celestial estava realmente com a minha família naquela noite.

Por fim, após caminhar por mais três horas e enfrentar outras dificuldades no caminho — como ter que nos jogar no chão do deserto para não sermos vistos pela polícia da fronteira —, finalmente chegamos até onde os veículos estavam. Havíamos cruzado o deserto da Bolívia a pé. Já estávamos no Chile.

Aquela noite foi muito especial. Uma experiência única e inesquecível. Me emociono muito só de lembrar. Eu sabia que o Pai Celestial estava cuidando da minha família e de mim. Sabia que Ele tinha me escutado. Sabia que Ele tinha me dado forças para ajudar minha família e sabia que meu Pai Celestial tinha respondido a minha oração.

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