Terra Indomável: O que é verdade ou ficção na nova série da Netflix?
Terra Indomável é uma minissérie produzida pela Netflix que mistura conflitos entre brancos e indígenas, religião, política e a cultura da época. Baseada em acontecimentos reais, a minissérie combina personagens fictícios e eventos históricos para contar uma parte da história do Oeste americano.
A produção traz um olhar visceral sobre os desafios e conflitos da época, com um cenário característico de faroeste e um roteiro que aborda tanto a brutalidade quanto a resiliência dos personagens.
O Massacre de Mountain Meadows, um dos episódios mais trágicos da história da Igreja de Jesus Cristo, serve como pano de fundo para o enredo da minissérie. Contudo, quem conhece a verdadeira história do massacre percebe que Terra Indomável não retrata toda a complexidade e verdade dos fatos.
A produção levanta questões importantes sobre violência, religião e poder, mas deixa espaço para interpretações errôneas sobre eventos e pessoas reais.
Verdade ou ficção?
Então, o que é verdade e o que ficção em Terra Indomável?
Em um artigo sobre a minissérie, publicado no TUDUM, blog oficial da Netflix, lemos que o Massacre de Mountain Meadows é retratado no primeiro episódio da série e inspirado em eventos reais. A cena mostra soldados mórmons disfarçados de nativos atacando pioneiros em sua jornada para o Oeste.
Segundo Eric Newman, produtor executivo da minissérie, o evento foi escolhido devido à interseção entre nações nativas, o governo dos EUA, os “mórmons” e os cidadãos americanos que buscavam atravessar a região, tornando-se um ponto inicial de conflito na narrativa.
Contudo, a descrição apresentada na série não está totalmente de acordo com os registros históricos do Massacre de Mountain Meadows. Existem mitos e verdades no enredo.
Embora seja verdade que o evento envolveu um ataque violento contra um grupo de pioneiros que cruzavam o território de Utah em 1857, existem vários detalhes importantes que precisam ser esclarecidos para entender melhor a história.
Quem foram os responsáveis pelo massacre?
O massacre foi conduzido principalmente por membros da milícia local, composta por membros da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias (chamados de mórmons), com algum envolvimento de aliados indígenas da tribo dos Paiutes.
No entanto, a ideia de “soldados mórmons vestidos como nativos” não é verdadeira. Os atacantes usaram disfarces para inicialmente culpar os indígenas pelo ataque, mas mais tarde revelaram sua verdadeira identidade.
Existiam Santos dos Últimos Dias entre as vítimas como em Terra Indomável?
A série retrata um pequeno grupo de santos que viajaria até a Califórnia e que se junta a companhia do Arkansas em Mountain Meadows. A maioria morre no massacre, e os que sobrevivem seguem no enredo da trama.
Contudo, isso não é verdade. Na companhia do Arkansas não havia Santos dos Últimos Dias. E, infelizmente, apenas 17 crianças com menos de 6 anos de idade sobreviveram.
O que realmente levou ao Massacre de Montain Meadows?
Uma companhia de emigrantes do Arkansas parou em uma pequena cidade para comprar suprimentos, mas encontrou dificuldades com preços altos e resistência local. Alguns membros da companhia, irritados, ameaçaram ajudar os soldados a exterminar os santos quando o exército chegasse. Além disso, um homem afirmou ter a arma que matou Joseph Smith.
O capitão da companhia do Arkansas tentou acalmar os ânimos, mas outros membros da companhia ameaçaram o prefeito Isaac Haight, o que fez com que os santos se sentissem em perigo iminente.
Os líderes locais da Igreja, temendo que o grupo de pioneiros representasse uma ameaça à segurança de seu povo durante um período de tensão com o governo dos EUA (a Guerra de Utah), ordenaram o ataque.
No entanto, a decisão de atacar o grupo veio após dias de cerco e foi tomada por líderes locais, e não por Brigham Young, profeta e presidente da Igreja na época.
Quem é Brigham Young em Terra Indomável
Na série Terra Indomável, o papel de Brigham Young é retratado de forma indireta. Embora não seja o foco principal da narrativa, ele é mencionado como uma figura importante no contexto histórico do massacre.
Brigham Young, que era o líder da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias na época, tem sua autoridade envolvida, já que o massacre foi instigado por líderes locais em Utah, sob a sua liderança, embora ele pessoalmente não tenha ordenado o ataque.
Na série, Brigham Young é retratado como alguém cujas decisões, somadas à tensão entre os santos e o governo dos EUA, teriam contribuído para criar um clima de desconfiança e medo. A série sugere que a pressão sobre os líderes locais, como Isaac Haight e outros membros da milícia, levou à tragédia.
A minissérie não oferece uma representação detalhada de como Brigham Young pode ter se envolvido no evento, deixando espaço para interpretação e questionamento sobre o quanto da verdade histórica é retratado.
A verdadeira relação entre de Brigham Young e o massacre
Apesar de na série Brigham Young ser retratato como um líder impiedoso, e que de certo modo, concordou com as ações e decisões tomadas em Montain Meadows, isto não é verdade.
Brigham Young estava em Salt Lake City, a 300 quilômetros de Mountain Meadows. Após as ameaças sofridas pelos membros da companhia do Arkansas, os líderes locais decidiram consultar o profeta. Enviaram uma carta por um de seus homens a cavalo. Após três dias de cavalgada, Brigham recebeu a carta, notou a urgência em respondê-la e assim o fez.
Em um trecho de sua carta, lemos o seguinte:
“No tocante às companhias de emigrantes que passam por nossas colônias, não podemos interferir com eles até que sejam notificados para manterem distância”, ele instruiu. “Não os provoquem. É esperado que os índios façam o que bem lhes aprouver, mas vocês devem se esforçar para manter um bom relacionamento com eles. Deixem que sigam em paz”.
Portanto, o profeta não teve qualquer envolvimento com o Massacre e as decisões ruins tomadas pelos responsáveis não foi um reflexo de sua liderança. Em qualquer tempo, desde sua restauração, os membros da Igreja de Jesus Cristo sempre foram ensinados a amar o seu próximo.
Mesmo em circunstâncias difíceis, como no Velho Oeste ou em tempos de guerra, a menos que fosse para defender a própria vida ou de seus familiares, os santos dos últimos dias sempre foi um povo acolhedor e respeitoso.
A posição da Igreja sobre Terra Indomável
Devido à maneira negativa como os Santos dos Últimos Dias são retratados na minissérie, a Igreja publicou um comentário oficial sobre o assunto. Em um trecho do comentário lemos:
“Uma série de streaming recentemente lançada apresenta uma interpretação ficcional de eventos ocorridos em Utah, em meados do século XIX. Embora a ficção histórica possa ser esclarecedora, este drama é perigosamente enganoso.
Brigham Young, um profeta reverenciado e pioneiro corajoso, é, por qualquer padrão histórico, gravemente retratado de forma distorcida como um fanático vil e violento. Outras pessoas e grupos também são apresentados de maneiras que reforçam estereótipos imprecisos e prejudiciais.”
Independente da situação, quando povos ou culturas são retratados, é importante buscar a verdade sobre os fatos. Representar uma comunidade ou religião de forma distorcida e sem respeitar os fatos pode criar ideias erradas e influenciar quem não conhece a realidade.
Hoje, em um mundo onde lutamos pela liberdade religiosa e o respeito mútuo, é essencial que produções culturais se esforcem para equilibrar a ficção e os fatos reais. Retratar uma comunidade de forma imprecisa, como ocorre em Terra Indomável, não apenas desrespeita a complexidade da história, mas também ingora as lições aprendidas no caminho.
Para saber o que realmente aconteceu no Massacre de Mountain Meadows acesse:
A Igreja de Jesus Cristo faz comentário sobre série Terra Indomável
Assista também a nossa análise na série aqui:
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