Ter depressão não significa sofrer sozinho
“Eu tinha medo de ser excomungada, se o bispo descobrisse que eu estava depressiva.”
Esse era o chocante medo que minha amiga compartilhou comigo depois que contei sobre minha própria experiência com a depressão clínica.
Hoje, é difícil de acreditar, mas isso fazia sentido para ela a 20 anos atrás. Ela pensava que “bons membros da Igreja não ficavam depressivos” – então, ela seria excomungada se revelasse seu desespero e sua escuridão.
Ter depressão não significa sofrer sozinho
Foram histórias como essa que levaram eu e minha amiga Betsy Chatlin, uma terapeuta, a fazer uma colaboração no livro: Reaching for Hope: An LDS Perspective on Recovering from Depression (Buscar a esperança: Uma perspectiva SUD de recuperação da depressão).
Quando o livro foi publicado em 2000, fiquei chocada com o número de mulheres que eu conhecia e que sutilmente admitiram que lutavam com o a depressão por anos, cada uma delas estava isolada na vergonha e no sentimento de que elas eram as únicas que carregavam esse fardo.
Em suas histórias, reconheci a minha própria história. Eu acreditava que a minha depressão era o resultado de uma fraqueza, uma falha fatal que me transformou em um fardo para aqueles ao meu redor, e que me desqualificava para a exaltação.
Nada disso é verdade, mas meu pensamento distorcido não enxergava o erro. A felicidade se tornou uma vaga memória. Me sentia isolada e imersa em escuridão e desespero.
Betsy e eu escrevemos o livro para oferecer esperança e companheirismo para aquele que se sentem aflitos e sozinhos.
A depressão é o resultado de uma complexa interação de fatores, o que inclui traumas, predisposição genética, luto e perda, desarranjo químico, efeitos colaterais de medicamentos, doenças graves, fadiga crônica, e muitas outras possíveis causas.
Até mesmo a mudança das estações ou lugares mais elevados, podem contribuir para a depressão. Mas os sentimentos de falta de esperança e isolamento são consistentes entre aqueles que sofrem com depressão, independentemente de sua causa.
Os efeitos colaterais espirituais da depressão
Um fator agravante para os Santos dos Últimos Dias é o sentimento de abandono espiritual. Acreditamos que se somos fiéis e dignos, o Espírito Santo sempre será nosso companheiro. Ao vermos a escuridão se aproximar, podemos começar a nos sentir espiritualmente sozinhos.
Sentimentos familiares de conforto e conexão durante as orações, podem ser substituídos por uma sensação de que nossas orações não estão chegando ao céu, o que impede a nossa comunicação com o nosso Pai.
Podemos não nos sentirmos mais confortáveis, amados, acalentados e felizes. Porque não temos acesso aos sentimentos que associamos com o Espírito. Podemos assumir erroneamente que o Espírito Santo se afastou, confirmando o falso senso de indignidade.
Isso pode ser um dos efeitos mais dolorosos da doença: a convicção de que se Deus nos abandonou, devemos ser pessoas muito ruins.
Claro que Deus não nos deixou. Nossa incapacidade de sentir a Sua presença não é uma prova de sua ausência.
O Presidente Thomas S. Monson afirmou que:
“O amor de Deus está lá para vocês, quer sintam que o mereçam ou não. Ele está sempre lá, simples assim. Prometo a vocês que um dia olharão para trás, para suas dificuldades, e perceberão que Ele sempre esteve a seu lado.”
Ao repararmos nossas mentes, nossas habilidades de sentir emoções positivas retornarão, e novamente sentiremos essas emoções associadas ao Espírito.
Enquanto isso, podemos procurar outras maneiras de experimentar a presença de Deus: nas ideias inspiradas, nas pequenas e ternas misericórdias em nosso dia, o Senhor se comunica conosco através de outras pessoas, e outras novas maneiras de sentir a consciência e o cuidado do Senhor por nós.
Podemos nos tornar flexíveis e confiar que Deus ainda está conosco, mesmo quando nosso cérebro não O reconhece, nas velhas e familiares maneiras.
A face da depressão
Em 2003, a Sister Kathleen H. Hughes, da Presidência Geral da Sociedade de Socorro na época, falou sobre sua experiência pessoal com a depressão.
A sua brava vulnerabilidade, junto com a de outras líderes e Autoridades Gerais, ajudou a reduzir a vergonha causada por essa condição e encorajou pessoas a olhar com esperança para aqueles que se recuperam ou que persistem na vida, mesmo com um espinho na carne.
O Élder Jeffrey R. Holland, que conhece de perto a depressão, deu um discurso inovador em 2013, “Como um Vaso Quebrado” centralizado na depressão. Seu discurso comovente, ancorado pela sua própria experiência com a depressão, incluiu uma pequena lista de outras pessoas dentro dessa fraternidade indesejável:
“Abraham Lincoln, Winston Churchill e o Élder George Albert Smith, este sendo um dos homens mais gentis e cristãos de nossa dispensação, que combateu uma depressão recorrente por alguns anos antes de se tornar o universalmente amado oitavo profeta e Presidente de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias.”
Em seu discurso na Conferência de Outubro desse ano, “Comigo habita, ó Deus a noite vem,” a Sister Reyna I. Aburto falou sobre saúde mental. Ela modelou a vulnerabilidade que encorajou em cada um de nós. Ela ensinou que:
“Quando falamos de nossos desafios emocionais, admitindo que não somos perfeitas, damos aos outros uma abertura para que compartilhem as dificuldades deles. Juntos, descobrimos que há esperança e que não precisamos sofrer sozinhos.”
Essa abertura é refletida em nossa sociedade e em nossas alas. Sabemos que “bons Santos dos Últimos Dias” ficam depressivos também. Como um todo, nos sentimos mais seguros ao revelar nossas experiências com a depressão.
Falar com outras pessoas sobre a nossa experiência ajuda a aliviar a vergonha, que piora e aumenta a nossa escuridão.
Como podemos ajudar nossos amigos que falam abertamente sobre depressão?
Podemos ajudar a aliviar algumas dessas angustias, simplesmente ao estar dispostos a escutar a dor de nossos irmãos espirituais.
Ficar com eles é um ato de amor cristão. Não podemos mudar a experiência deles, mas podemos sentar com eles e ajuda-los a passar por isso.
O Élder Holland nos encoraja e a lembra que, enquanto Deus está trabalhando por aqueles que lutam, podemos fazer a nossa parte sendo misericordiosos, sem julgamentos e bondosos. E quando nós estivermos lutando, podemos ser gentis conosco e confiar que:
“Deus está no comando. Ele conhece vocês individualmente e sabe quais são suas necessidades.” ( Élder Holland, “Essa, a maior de todas as dispensações”, A Liahona, Julho 2007.)
Fonte: Meridian Magazine