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A tradução milagrosa do Livro de Mórmon para o japonês

“E acontecerá que o Senhor Deus começará a sua obra entre todas as nações, tribos, línguas e povos, para efetuar a restauração de seu povo na Terra.” – 2 Néfi 30:8

Existe uma profecia contida no Livro de Mórmon de que “o Senhor Deus começará a sua obra entre todas as nações, tribos, línguas e povos, para efetuar a restauração de seu povo na Terra.”(2 Néfi 30:8) Uma das maneiras pelas quais as palavras desta escritura se concretizaram foi através da tradução do Livro de Mórmon para numerosas línguas estrangeiras.1 Uma dessas primeiras traduções é a tradução do Livro de Mórmon para o japonês.2 Foi particularmente desafiador. 

A tradução levou mais de cinco anos e nove meses, e os documentos utilizados consistiam em 27 folhetos escritos a mão.3 Além disso, o que torna essa história de tradução ainda mais incrível é a habilidade do jovem por trás desta tradução, Alma O. Taylor.4  Taylor tinha apenas 19 anos quando foi chamado como um dos primeiros missionários a acompanhar o Apóstolo Heber J. Grant para abrir a Missão Japão em 1901. Eles não sabiam nada de japonês.5 Contudo, entre os quatro missionários chamados, Alma pareceu aprender o idioma com mais facilidade. 

Em pouco tempo, Taylor estava traduzindo hinos e outras obras e textos doutrinários. Quando não sabia uma palavra ou não entendia a gramática, buscava a ajuda de nativos que moravam por perto ou seu tutor.6 Depois de dois anos traduzindo, Alma escreveu em seu diário: “Parece que esse trabalho não se tornou mais fácil a medida que eu progredi, como eu esperava… No final… este trabalho sem dúvida será de grande valor para mim ”. 7

Em janeiro do ano seguinte, 1903, o presidente da missão japonesa, Presidente Ensign, anunciou que finalmente chegara a hora de começar a traduzir o Livro de Mórmon, chamando todos os missionários a usar seu tempo livre para levar o trabalho adiante.8 Semanas antes, Alma havia orado pedindo ao Senhor que inspirasse o Presidente Ensign a começar o trabalho.9

Ele encarou esse anúncio como a resposta de sua oração e imediatamente começou a traduzir. No final de junho, Taylor havia completado oito capítulos de 1 Néfi.

Logo Taylor foi formalmente chamado e designado para traduzir o Livro de Mórmon. Isso abriu o caminho para ele se concentrar unicamente na tarefa. Mesmo com essa vantagem, ainda demorou quase dois anos para completar o primeiro rascunho.10  Taylor reconheceu que ele não poderia fazer o trabalho sozinho. Ele jejuou e consultou seus amigos missionários, santos dos últimos dias, falantes nativos e eruditos.11

Quando Élder Fred Caine estava perto de terminar o segundo rascunho, trocando o romaji de Taylor – palavras japonesas escritas no alfabeto latino – por caracteres japoneses, Taylor sentiu que precisava contratar um profissional para ajudá-lo no projeto.12  Ele primeiro pensou em Kinza Hirai, que ajudou Taylor com inúmeros outros projetos de tradução. Depois de falar com Hirai, Taylor foi informado pelo Senhor que Hirai não era a pessoa certa. Ele ficou grato quando Hirai rejeitou a oferta.13

Um ano depois, depois de muita oração e jejum, Taylor ainda não havia encontrado um tradutor. Ele estava novamente convencido de que Hirai era o homem para o trabalho e falou com os outros missionários no conselho. Taylor recebeu a aprovação do conselho e uma proposta foi novamente feita a Hirai.14  Embora a proposta não tenha sido bem sucedida, Hirai mandou uma carta de apresentação a um Sr. Noguchi, que ele afirmou que poderia fazer bem o trabalho.

Infelizmente, Taylor não se impressionou muito com o Sr. Noguchi, e ele ficou novamente sem um tradutor.15 Ele começou suas buscas imediatamente e rapidamente encontrou mais dois possíveis candidatos.Foi quando finalmente encontrou Hirogoro Hirai, o irmão de Kinza Hirai.16  Parecia que a longa busca de Taylor finalmente havia terminado.

Taylor foi paciente e ganhou, não apenas um tradutor, mas instrução através da revelação. Como parte do processo de entrevista, Taylor pediu a cada candidato que corrigisse sua tradução escrita em japonês coloquial. 17 No entanto, quando Taylor recebeu as cópias, cada pessoa tinha convertido o texto em japonês clássico.18

Eles explicaram a Taylor que “é muito difícil encontrar um estilo padrão que seja usado em todo o Japão. O clássico, no entanto, é o mesmo em todas as partes do Império. . . não há um padrão coloquial que seja atual em todas as partes do Japão, uma tradução escrita no dialeto da parte nordeste da ilha não seria boa no sudoeste.”19 Percebendo seu erro, Alma reuniu os irmãos em conselho para decidirem qual estilo deveriam usar para a tradução do Livro de Mórmon. Por unanimidade, eles concordaram que uma versão simplificada do japonês clássico seria ideal.20

Hirogoro Hirai trabalhou rapidamente, mudando as formas de cada verbo na tradução de Taylor. Eles se reuniam com frequência e, quando Hirai completou sua primeira parte do texto, Taylor o levava a outras pessoas para garantir que as traduções clássicas do japonês fossem simples e fáceis de entender.21 Élder Caine logo foi chamado para traduzir em tempo integral e o trabalho parecia seguir adiante com firmeza. Hirai havia corrigido 20 dos 27 volumes que compunham o Livro de Mórmon quando um escândalo envolvendo Hirai aconteceu.22

Enquanto Taylor tentava dizer que as alegações contra Hirai eram falsas, ele descobriu uma verdade desagradável: Hirai o havia enganado. Hirai havia mentido sobre seu salário anterior e não deixou o emprego como havia prometido que iria fazer. Nos primeiros seis meses de tradução, Hirai disse à universidade que estava doente enquanto recebia uma uma quantia diária de 20 ienes durante sua licença médica, além de seus 80 ienes de Taylor.23 Nos últimos três meses, Hirai voltou a ensinar na universidade enquanto continuava a receber o salário pela tradução do Livro de Mórmon. Taylor ficou, mais uma vez, sem um tradutor. 

Mais decepção enquanto Taylor ia ficando sem contatos. Talvez, por desespero para continuar o trabalho, ele se aproximou de um influente escritor japonês em busca de ajuda. Deste encontro, ele foi apresentado a Koji Ikuta. Ikuta, apesar de ainda ser um estudante na época, disse que estava aprendendo rápido e que tinha bastante experiência com tradução de textos do inglês para o japonês e vice-versa.24 Tendo aprendido com a experiência anterior ao tentar contratar um tradutor, Taylor deu a Ikuta um extenso teste antes de o contratar.

Ikuta foi, nas palavras de Taylor, “um cavalheiro”. 26 Depois de um mês, Taylor fez a seguinte comparação: “Sr. Hirai era mal-humorado, se irritava com frequência, dizia coisas asquerosas e muitas vezes tornava nossas conversas muito desagradáveis… [enquanto o Sr. Ikuta] é rápido e franco em reconhecer seus erros. Ele me escuta e respeita o que falo e… nos demos bem rapidamente.27 Finalmente as preces de Taylor foram respondidas e sua caçada acabou.

Enquanto traduzia o Livro de Mórmon, Taylor nunca se esqueceu de incluir o Senhor e, em algumas ocasiões, até buscou conselhos da Primeira Presidência. Aproximando-se da data de publicação do Livro de Mórmon em japonês, Taylor escreveu: “Uma carta da Primeira Presidência contendo respostas a duas questões importantes… foi recebida… Em harmonia com as instruções nela contidas, fiz algumas alterações na primeira parte da tradução e preparei os dois primeiros livros do manuscrito para irem serem [impressos].”28

Quando o Livro de Mórmon em japonês foi finalmente concluído, no dia 10 de junho de 1909, Presidente Alma O. Taylor escreveu em seu diário: “Por isso, hoje, o término da tradução.. faz importante este grande dia. Um dia para ser lembrado por muitos anos como o dia tão esperado por todos aqueles que trabalharam, oraram e jejuaram por quase cinco anos.29 Ele continuou: “Deus me abençoou abundantemente e me ajudou fisicamente, mentalmente e espiritualmente… e com um coração agradecido pelas incontáveis bênçãos concedidas a mim e ao trabalho ”.30

O Motivo

Pode parecer estranho que Taylor tenha usado estudiosos de fora da Igreja para ajudar na tradução do Livro de Mórmon. No entanto, ele acreditava que era necessário que ele aprendesse as sutis diferenças entre as palavras do idioma e encontrasse alternativas apropriadas para termos não encontrados em japonês.31 Por exemplo, a palavra Deus em japonês originou-se do xintoísmo. O autor japonês Akutagawa explica: “Quando os budistas japoneses adormecem e sonham com o deus do sol budista, Dinichi, a imagem que aparece… [é] a deusa sol xintoísta, Amaterasu… [Aqueles] convertidos ao cristianismo verão em suas mentes e corações imagens do Deus ocidental…diferente dos rostos e formas dos deuses nativos.”32 Por isso, Deus precisava ser uma palavra diferente para trazer clareza e luz à Sua divindade.

Taylor se deparou com muitos problemas como este enquanto traduzia. Estudar a Bíblia protestante japonesa, orar, receber conselhos da Primeira Presidência e outros membros ajudaram, mas Taylor também reconheceu sua falta de instrução, especialmente no japonês clássico. 33 Através da revelação, Taylor foi capaz de encontrar a ajuda que precisava. Seu resultado foi uma tradução acessível do Livro de Mórmon.

Durante seu serviço de 8 anos no Japão, apenas 35 japoneses se converteram ao evangelho.34 Ele prosseguiu lentamente, linha após linha, cada passo de uma vez. Os envolvidos precisavam superar obstáculos, resolver problemas, lutar contra o desânimo e a solidão e buscar constantemente a orientação e a ajuda do Senhor. No final e no tempo do Senhor, o surgimento do Livro de Mórmon em japonês aconteceu como um primeiro passo necessário para promover a obra de Deus e levar a efeito a profecia feita por Joseph Smith anos antes: “E este evangelho será pregado a toda nação e tribo e língua e povo.” (Doutrina e Convênios 133:37).

Esta é uma tradução do artigo publicado originalmente no site bookofmormoncentral.org com o título “The Miraculous Translation of the Book of Mormon into Japanese”.


Leitura Adicional

Reid Larken Neilson, “The Japanese Missionary Journals of Elder Alma O. Taylor, 1901-10,” Master’s Thesis, Brigham Young University, 2001, online em scholarsarchive.byu.edu.

 Shinji Takagi, “Proclaiming the Way in Japanese: 1909 Translation of the Book of Mormon,” Journal of the Book of Mormon and Other Restoration Scripture 18, no. 2 (2009), online em publications.mi.byu.edu

 Van C. Gessel, “‘Strange Characters and Expressions’: Three Japanese Translations of the Book of Mormon,” online em bookofmormoncentral.org.

Van C. Gessel, “Coming to Terms: The Challenge of Creating Christian Vocabulary in a Non-Christian Land,” BYU Studies Quarterly 50, no. 4 (2011), online em scholarsarchive.byu.edu.

Imagem principal do Elder Alma Taylor, Heber J. Grant, e outros missionários via Mídia do Evangelho

1.Para ver mais sobre isso, acesse Book of Mormon Central, “The Miraculous Translation of the Book of Mormon into Ukrainian (2 Nephi 26:13),” KnoWhy 483 (November 8, 2018). Partes do Livro de Mórmon foram traduzidas em 111 idiomas, desde dinamarquês (1851), galês (1852) e havaiano (1855), 3 para pohnpeian, sesoto, e tshiluba, anunciado em 2017. Poucos livros foram traduzidos e distribuídos. Ver “Church to Translate Scriptures in 34 More Languages; Will Release Portions Online,” October 10, 2017, online em churchofjesuschrist.org.

2.Para mais informações sobre esse tópico, confira Shinji Takagi, “Proclaiming the Way in Japanese: 1909 Translation of the Book of Mormon,” Journal of the Book of Mormon and Other Restoration Scripture 18, no. 2 (2009), online em publications.mi.byu.edu

3. Ver Reid Larken Neilson, “The Japanese Missionary Journals of Elder Alma O. Taylor, 1901-10,” Master’s Thesis, Brigham Young University, 2001, online em scholarsarchive.byu.edu, 521.

4. Para um resumo desta história, veja Van C. Gessel, “Languages of the Lord: The Japanese Translations of the Book of Mormon,” in Taking the Gospel to the Japanese, 1901-2001, ed. Reid L. Neilson e Van C. Gessel (Provo, UT: BYU Studies, 2006), 233–262.

5. O apóstolo Heber J Grant e Louis A. Kelsch estavam com 44 anos, e Horace S. Ensign tinha 35 quando Taylor foi chamado para ser seu companheiro para abrir a missão Japão. Ver Neilson, “The Japanese Missionary Journals of Elder Alma O. Taylor, 1901-10,” 81.

6 – 7, 13, 14. Ver Neilson, “The Japanese Missionary Journals of Elder Alma O. Taylor”

12.Próximo ao momento que Alma O. Taylor foi chamado e designado para ser o Presidente da Missão. Veja Neilson, “The Japanese Missionary Journals of Elder Alma O. Taylor, 1901-10,” 376; 420.

14.Hirai aceitou a oferta mas não conseguiu dar uma data aproximada de quando terminaria o projeto e estimou que demoraria mais de dois anos. Taylor cancelou a oferta. Ver Neilson, “The Japanese Missionary Journals of Elder Alma O. Taylor, 1901-10,” 443.

15. Ver Shinji Takagi, “Proclaiming the Way in Japanese: 1909 Translation of the Book of Mormon,” Journal of the Book of Mormon and Other Restoration Scripture 18, no. 2 (2009), 24 online em publications.mi.byu.edu.

17. Este estilo de escrita, o qual Taylor se referia como Gembunitchi, é conhecido como Genbun Itchi. Durante a era Meiji existia uma tentativa de ocidentalizar o país. Criar uma forma literária de japonês que imitava o idioma falado conhecido como Genbun Itchitai foi umas das maneiras de aumentar as taxas de alfabetização e se tornar mais ocidental. Para aprender mais, veja Massilmiliano Tomasi, “Question for a New Written Language: Western Rhetoric and the Genbun Itchi Movement,” Monumenta Nipponica 54, no. 3 (1999), online em jstor.org

18. Esse estilo de japonês que Taylor chamou de Bushotai é normalmente conhecido como Bungo. Bungo era um tipo de linguagem altamente sofisticado que se iniciou a centenas de anos atrás. Era um tipo de japonês de difícil entendimento quando lido em voz alta. Para a maioria dos japoneses, é incompreensível: muito diferente da língua falada e da escrita. O objetivo de Taylor era de fazer uma tradução que retratasse corretamente os ensinamentos de Deus ao mesmo tempo que fosse acessível, Genbun Itchitai foi escolhida. Ver Takagi, “Proclaiming the Way in Japanese: 1909 Translation of the Book of Mormon.”; Tofogu, “Kobun: Classical Japanese,” online em tofogu.com

19.Taylor escreveu toda sua tradução em Tókio Gunbun Itchitai coloquial e não sabia disso. Um converso, Irmão Oyama, leu a tradução de Taylor no início do projeto e disse a Taylor que o texto estava coloquial demais. A crítica foi ignorada naquele momento, e só depois Taylor percebeu o que Oyama estava tentando ensiná-lo há anos atrás. Ver Neilson, “The Japanese Missionary Journals of Elder Alma O. Taylor, 1901-10,” 489.

20 – 27, 29 – 31, 33. Ver Neilson, “The Japanese Missionary Journals of Elder Alma O. Taylor, 1901-10,” e Takagi, “Proclaiming the Way in Japanese: 1909 Translation of the Book of Mormon.”

28.Anteriormente, Taylor também se aconselhou com o Presidente Anthon H. Lund para usar a Bíblia Protestante em japonês como um guia para a tradução nos momentos onde a Bíblia e o Livro de Mórmon convergissem. Ver Neilson, “The Japanese Missionary Journals of Elder Alma O. Taylor, 1901-10,” 561.

32.Van C. Gessel, “Coming to Terms: The Challenge of Creating Christian Vocabulary in a Non-Christian Land,” BYU Studies Quarterly 50, no. 4 (2011), online em scholarsarchive.byu.edu

34.Muitos dos 35 estão inativos ou excomungados. Ver Neilson, “The Japanese Missionary Journals of Elder Alma O. Taylor, 1901-10,” 615.

Esta é uma tradução do artigo publicado originalmente no site bookofmormoncentral.org com o título “The Miraculous Translation of the Book of Mormon into Japanese”.

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